Novos caminhos e olhares sobre a ADOÇÃO
Publicado no Jornal Bem Estar em Fevereiro de 2010
Grupos contribuem de forma grandiosa para a visão de que é a capacidade de acolher, cuidar e de criar vínculos que torna alguém digno de ser chamado pai ou mãe.
A adoção hoje é encarada com maior naturalidade, sem a aura de segredo ou vergonha de algumas décadas atrás. Assistimos o orgulho das famílias adotivas na mídia, o que acaba contribuindo de forma positiva para isso. Numa conversa particular você nos comentou que a evolução dos direitos das crianças e das leis, as descobertas científicas sobre fertilidade nas últimas décadas ajudaram bastante no afrouxamento de diversos tabus e mitos. Você acha que as leis influenciaram a mudança de olhares para a adoção?
Hoje a lei institui que toda a criança tem o direito a uma família, o que norteia os trâmites legais nas ações em torno da seleção e colocação em famílias substitutas de crianças que seus pais perderam o poder familiar ou órfãs. São as necessidades das crianças que ganham prioridade, evolução a partir dos direitos da criança.
Esta nova perspectiva acaba por apoiar as situações em que não é um casal tradicional que busca e obtém a adoção, mas adultos sozinhos ou casais homossexuais que querem ter filhos, formar uma família, estão abertos e disponíveis a oferecer um lar com cuidados, educação, carinho e amor. Uma família passa a existir com a presença de filhos onde adultos cuidam de crianças.
Rute, como as pessoas interessadas em uma boa evolução de uma adoção podem encontrar apoio?
Certamente, elas encontrarão apoio participando de preparação para a adoção com profissionais que possuem conhecimento sobre desenvolvimento afetivo humano e apóiam o processo psicológico envolvido na decisão, espera e chegada da criança. Outra possibilidade são os grupos de família adotivas que, sem dúvida, poderão contribuir de forma decisiva no futuro da família.
A reflexão profunda a cerca das motivações da decisão, as situações comuns que envolvem o processo, a consciência das modificações de vida envolvendo os mais diversos aspectos, contribuirão para maior segurança e maturidade aos pretendentes à adoção. O processo para o documento de habilitação à adoção se distingue da preparação, pois tem caráter avaliativo.
Quais são os benefícios que a família pode obter participando dos Grupos de Famílias Adotivas?
A vivência da adoção compartilhada gera trocas para melhor viverem tais circunstâncias. Os profissionais contribuem para avaliar a situação, apoiando os pais a reconhecerem as necessidades afetivas da criança e responder a elas consistentemente. No grupo, encontram semelhantes fortalecendo a capacidade de olhar de maneiras diversas para uma determinada situação que atravessam e esta fortaleza, este apoio mútuo é fundamental para acertos e ajustes nas famílias adotivas. Realizei também, por quatro anos grupo para filhos adotados e foi fantástica a possibilidade que tiveram de aprofundar estas questões e fortalecer a identidade de filho adotivo ao encontrarem seus iguais.
Nestes grupos acompanhamos famílias construindo assertividade em relação às circunstâncias diferenciadas que a adoção requer, encorajando mais pessoas a buscarem a adoção. Assim, o preconceito alardeado na cultura popular de que ter um filho adotivo é trazer um problema para a vida, começa a perder força. Ganha força o caminho do coração.
Na verdade, se olharmos por um ângulo positivo, a adoção é o caminho diferenciado da maternidade e paternidade, por vezes privilegiado pelo desejo profundo, refletido e aguardado para tornar-se pai ou mãe. É a capacidade de acolher, cuidar e de criar vínculos que torna alguém digno de ser chamado pai ou mãe. O processo biológico não é definidor deste papel. Muitos temem não amar um estranho, a criança que chega, mas os filhos da barriga também o são quando nascem e os laços sanguíneos não definem laços afetivos. Deixe seu coração te guiar.
*Rute Rodrigues - Psicóloga (CRP 07/ 8374) Esp. Arteterapia, Terapia de Famílias e Casais, Dinâmica dos Grupos e Ludoterapia. Psicoterapeuta. Coordenadora do Núcleo de Adoção do Projeto Ninho—Educação Afetiva.
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