Contar histórias pode fazer parte da cultura familiar. Pode estar presente na escola e agora possuímos um ressurgimento da contação de histórias em espaços públicos por pessoas que utilizam desde a narrativa simples, passando pela teatralização, até o uso de adereços como bonecos, figuras e objetos. As crianças param ao ouvir a frase mágica: “ERA UMA VEZ...” e a magia acontece entre o ouvinte e o contador na esfera da imaginação e criação de cada participante. No desfilar de personagens e situações, as emoções vão surgindo e a alegria, curiosidade, o medo, a desconfiança, a raiva, entre outras tantas variações de envolvimento são estimuladas.
Fora isto, os pequenos anseiam saber o final, como tudo acabou, que fim deu a situação. Alguns chegam a se apaixonar pelos personagens encarnando a dramatização dos mesmos em seus momentos de brincadeira. As crianças viram heróis, mocinhos e bandidos, princesas e bruxas. É um mundo fantástico que se produz da simples relação com uma história.
Mas o que está acontecendo? Como estes momentos deliciosos contribuem na formação de um ser humano? Parece que pelas histórias viajamos num mundo distante do nosso, mas só parece. Os contos de fadas, por exemplo, carregam a ancestralidade, carregam histórias longínquas que sempre se relacionam a algo que também acontece no decorrer do desenvolvimento de nossas vidas, algo comum. Não que a vida seja um desfilar de repetições ou coincidências. Mas sim, contém semelhanças nos enredos, nas funções dos personagens, na expressão do bem e do mal, nos desafios diários parecidos com monstros a nos desacomodar. Fora que são verdadeiros manuais para a vida, justamente por sugerirem inspiração para saídas e resoluções de conflitos e desafios, no uso da coragem, nos atos heróicos, nas saídas impensadas, nos finais surpreendentes, nas emoções e humanização de cada personagem que se entristece ou sente medo e torcemos que supere em busca da alegria e da coragem. As histórias, os contos de fadas, são lugares em que podemos nos projetar e nos identificar em segurança, ou seja, podemos nos colocar no lugar do personagem e nos investirmos de suas qualidades e experimentá-las em nossa fantasia, neste relacionamento íntimo com personagens a que nos apegamos e, se quisermos, utilizá-los como inspiração para nossa vida.

Mas todo este potencial que vem gratuitamente no contato com as histórias, também nos tira de certa solidão. Vamos descobrindo que outras pessoas sentem como nós, outro herói tremeu de medo diante do obstáculo e conseguiu superá-lo. Assim vamos preenchendo de sentidos algumas vivências que antes poderíamos não ousar revelar a ninguém. Ou inaugurando novas advindas do próprio ato de conhecer a história. Saindo deste isolamento interno e encontrando novos sentidos com nossos interlocutores das histórias, vamos também construindo saberes, vamos encontrando lugares para nossos sentimentos e emoções e isto sem dúvida nos faz tomar posse da nossa própria história como sim um percurso de herói. Portanto, temos neste mundo dos contos um grande repertório que auxilia no entendimento de si mesmo e do mundo e que contribui para contrastar com as experiências de vida e ainda oferece um lugar seguro para aprendermos mais sobre nós mesmos. AQUECEMOS NOSSA ALMA!
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