A ARTE DE TECER AFETOS E CUIDADOS

Este foi um grande feito!!! a publicação em 2009 - como co-autora - de um livro. Um livro substancial porque fala de relações, relações tecidas pelo afeto e amorosidade. O capítulo que escrevi - Educação Afetiva: aprendendo a ser e a conviver - conto uma experiência em escola pública do interior do Rio Grande do Sul. Ali desenvolvi um projeto chamado A ESCOLA QUE QUEREMOS CONVIVER. Foi um trabalho de imenso prazer, pois consegui integrar atividades com os professores e com os alunos e realmente semear um diferencial na qualidade de relações na escola. Tudo tendo a ARTETERAPIA como o fio condutor!
Eu e a PaTTi Cruz VIII CONGRESSO SUL AMERICANO DE CRIATIVIDADE
XII JORNADA GAUCHA DE ARTETERAPIA - GESTÃO DO CUIDADO: "A ARTE DE TECER AFETOS EM TEMPOS DE PAZ" 22 e 23 de maio de 2009

Neste congresso também participei como palestrante: EDUCAÇÃO AFETIVA – DESENVOLVIMENTO HUMANO E CRIATIVIDADE.

Da esquerda para a direita: Edna Pereira, Gislene Nunes Guimarães (Org.), eu,PaTTi Cruz e Clarissa Meroni de Souza (e o meu filhote, Vitor Anakin) - 54ª Feira do Livro de Porto Alegre - Nov. 2009 - LANÇAMENTO DO LIVRO

Abaixo o texto referente à Palestra:
EDUCAÇÃO AFETIVA – DESENVOLVIMENTO HUMANO E CRIATIVIDADE
A educação a qual me refiro pode acontecer em quaisquer espaços entre dois seres humanos ou mais. Pode ocorrer a cada instante em que os seres humanos abram-se a aprender sobre como nos relacionamos profundamente com a presença do outro. Pode acontecer onde a utopia do desejo de amorosidade esteja saindo do sonho e seja parte da ação. Amorosidade, entenda-se a percepção de que o outro é um ser digno de respeito na sua integridade física, moral e emocional. Amorosidade como permissão ao ouvir, ao diálogo, ao não-julgamento e como compreensão de si e do outro na manifestação do divino, do ser vivo e do sagrado.



Parto da escola. Parto de uma visão de profissional da psicologia. E também de uma visão sensível do ser integral de cada pessoa que está na escola.


Chamo a matemática. São no mínimo, 200 dias letivos de aula num calendário anual. São cerca de 4 horas do dia que cada turno contempla. São cerca de 800 horas ao ano em contato com toda a estrutura escolar. Este tempo é significativo e não podemos ignorar como o espaço escolar torna-se importante para a vida de todos que a compõe, mas especialmente à vida das crianças. Os filhotes da espécie humana precisam de cuidados, mesmo quando já estão livres das rotinas fisiológicas iniciais, as trocas de fralda, ou alimentação e continente de transporte. Os filhotes humanos seguem precisando de atenção e trocas significativas, as aprendizagens nunca cessam. A interação com o outro é fundamental para que se tornem adultos humanos e mesmo os adultos, ainda prescindem da compania do outro.


Ali no espaço de aprender, existem encontros, visíveis e invisíveis. Aproximações, atrações e repulsas. Ali a alma humana pulsa, pulsa em consonância com outras almas, como qualquer local em que dois seres humanos estejam em contato. A presença do outro aciona os sentidos e nosso sistema autônomo capta tais impressões e processa respostas incontroláveis pela consciência. Todo nosso organismo emite respostas ao outro, somos uma totalidade de afetividade. Então é neste local em que a aprendizagem precisa sair do privilégio do cognitivo e abarcar o afetivo.


Um ser humano aprende com seu organismo todo, na interação e no contato com o outro, com suas paixões e criatividades liberadas vai acessar a curiosidade, a inventividade e a criação, o gosto pelo aprender. Por outro lado, é urgente que atentemos ao afeto tanto para contribuir nas relações aqui e agora, quanto na perspectiva de construção da nossa cultura futura com valores humanizados, quanto para que a cognição seja múltipla e não dissociada e pasteurizada como encontra-se hoje. Ao queremos adultos com valores íntegros precisamos exercitar tais valores nos espaços de desenvolvimento e como adultos, desenvolvermos a coragem de nos envolvermos com tais questões.


A arte vem trazer a possibilidade do lúdico e do leve e principalmente, inscrever no coletivo o valor do criar, inventar e reinventar ações que toquem emocionalmente as relações dentro da aprendizagem. O poder da transformação, a exemplo da simplicidade em que uma folha de papel torna-se um lindo jardim, o retrato da família ou um céu colorido, tem o poder de comunicar à pessoa que ele é um artista, um criador de belezas. E a criança não está presa ao estético, está mais envolvida em impressionar com cores, formas e expressão livre quem a ela lhe é caro: pais, mães e professoras. Ou seja, a arte, em seus primórdios, cumpre um valor afetivo, relacional. E mesmo nós adultos, quando criamos também nos é necessário reconhecimento de que nossa obra causa algum efeito, seja ela uma comida, seja um texto, uma organização do nosso espaço de viver. O valor de uma obra infantil também está no quanto ela reflete o reconhecimento de si pelos outros. A delicada relação obra-autor está impregnada de identidade, a criança é sua obra, numa extensão mais profunda que acomete aos adultos, pois ela ainda está norteada pelos processos primários de desenvolvimento do seu Eu.


Uma das manifestações de criação mais significativa e que inscreve as crianças na autenticidade é o movimento. Este, infelizmente, desde cedo é cerceado primeiro pela necessidade de organização dos espaços e do funcionamento em grupo, mas na sua continuidade pode ganhar a força do adestramento e da padronização, pasteurizando o movimento na docilidade dos corpos. A expressão integrada que a dança e os jogos cooperativos podem propiciar é um campo vasto para a Arteterapia contribuir favorecendo o prazer do brincar em grupo e a reflexão sobre regras, ações e interdependência que necessitam ser pontuadas. Fica a pergunta: Como criar sem se mover? Não seria a criatividade um lampejo da emoção e dos sentimentos? Se emoção impregna o organismo, como sua origem revela: do Latim emotionem, "movimento, comoção, acto de mover" ex, "fora, para fora", e motio, "movimento, ação", "comoção" e "gesto” , como corpos dóceis podem criar? Corpos dóceis repetem.


Esta abordagem pretende inscrever as ações educacionais que cumpram a possibilidade de contemplar o ser como um todo, indissociado do pensar e do sentir. Portanto a educação deve retomar seu significado profundo da sua origem etimológica: ex= para fora; ducere= conduzir, tirar. Educar é um ato criativo de compor com os aprendizes sua manifestação única e se relacionar com estas unicidades no todo do grupo. Tarefa árdua em instâncias temporais que estratificam o aprender em áreas do conhecimento. Porém, o clima que se propõem nas relações pode ser o início de novas pautas. Quando nos percebemos como ecofator ambiental, também podemos nos permitir demonstração de ações amorosas e receptivas que se consistentes não roubam a autoridade do adulto, pelo contrário qualifica a mesma. Se exercermos a reflexão profunda sobre que tipo de ação, enquanto adultos propomos e se nos perguntarmos o quanto desta ação gera vida, gera harmonia e espaço ao outro ser acolhido, podemos dar atenção às relações a fim de criar um ambiente afetivamente favorável à aprendizagem. E quiçá de mudanças significativas às escolas, hoje carente de atrativos.

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Rute Rodrigues - Doctoralia.com.br